Homem processa instituto de depilação por recusar serviço

Andreia Nobre
QG Feminista
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3 min readFeb 11, 2023

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Matéria originalmente publicada na publicação feminista 4W.Pub.

Um homem que se diz “trans” e adotou o nome Kim Flores Carlos entrou com uma ação contra um instituto de depilação, que se recusou a atendê-lo no ano passado. Carlos marcou uma sessão de depilação no Millanea Instituto de Depilação com a proprietária, Isabel Martins da Silva, por telefone.

Mas quando Carlos foi ao instituto para a sessão marcada, a depiladora recusou atendê-lo por ser homem. Ele gravou a interação com uma depiladora e com Isabel, e postou o vídeo em seu TikTok. Ao que parece, Carlos removeu o vídeo de sua conta posteriormente, mas o vídeo acabou no YouTube e viralizou, com milhares de curtidas e compartilhamentos.

Carlos também deixou uma avaliação de 1 estrela sobre o salão no Google, dizendo que eles se recusaram a atendê-lo porque ele é uma “mulher trans”. Ele disse que a equipe o informou que nunca atendeu pessoas trans e não sabia “trabalhar” com seu corpo. “Nota-se que são desqualificadas e sem compromisso em compreender diversos corpos”, Carlos escreveu na avaliação. “Todas as clínicas de depilação que já fui sempre prezaram pelo meu conforto e bem-estar, além de me oferecerem um serviço de depilação igualitário e humanizado. Vergonha desse salão!”

Em 13 de dezembro de 2022, Carlos deu início à uma ação através da internet no Juizado Especial Cívil contra o instituto, exigindo indenização por “danos morais”. A empresa tem 15 dias para responder à citação e está buscando aconselhamento jurídico.

Segundo Isabel, o homem deu um nome feminino, “Kim”, quando marcou um horário para depilação. Ao chegar ao instituto no dia 11 de junho de 2022, Isabel o levou até a sala onde era feito o procedimento e chamou a depiladora que iria atendê-lo. Mas a depiladora voltou à recepção minutos depois, dizendo que o cliente “era um homem, que estava de cuecas, que tinha os testículos e pênis e estava ereto.”

“Então pedi para ela falar com ele que não fazíamos masculino”, disse Isabel para a 4W. Ela disse que ele começou a gravar a interação nesse momento.

No vídeo, Carlos diz à depiladora “Eu sou uma pessoa trans, não tem problema, né?” A depiladora é vista dizendo: “A gente só faz mulher aqui”. O homem então diz que “mas no caso, eu sou uma mulher”. Ele pergunta à depiladora se ela já teve experiência (com “pessoas trans”) e ela informa que nunca atendeu pessoas trans. “Não tenho nada contra, não tenho nada mesmo”, diz a depiladora, “mas a gente não trabalha (com depilação masculina)”. A depiladora então diz a Carlos que levaria o assunto à dona do salão.

Nesse momento, Carlos teria se exaltado exaltou e repreendeu a depiladora por não ser treinada em “todos os tipos de corpos”. A seguir, diz à depiladora que elas deveriam “se especializar um pouco mais” para atender “todo tipo de pessoa”, ou deixar escrito “não atendemos pessoas de genitais x ou y”.

A próxima mulher em seu vídeo é a própria Isabela. “Você pode me ver no vídeo dizendo a ele que não depilamos a genitália masculina porque as depiladoras do meu salão não são treinadas para isso.” O homem diz ao proprietário que é “constrangedor” para ele marcar uma consulta e ouvir que “só depilam mulheres”. Ele diz que ficou muito aborrecido porque “nunca tinha visto uma clínica de depilação que não trabalhasse com vários tipos de corpos”.

Quando Isabela diz que a clínica não consegue atendê-lo, Carlos responde “Então vocês tem que colocar (uma placa) dizendo depilamos apenas bucetas”. Carlos também diz “Eu faço depilação há anos, o meu pelo é fininho, eu tomo hormônio feminino, o que me diferencia das outras pessoas? É a minha genital? Mas o que isso importa?”

Esta não é a primeira vez que um salão especializado em depilação feminina se recusa a atender homens que se dizem trans. Em 2018, o canadense Jonathan (que adotou o nome Jessica) Yaniv entrou com uma ação no Tribunal de Direitos Humanos da Colúmbia Britânica contra pelo menos 15 salões de beleza depois que eles recusaram o serviço a ele por ser homem. No ano seguinte, depois que um juiz considerou Yaniv ter agido “falsamente”, mirando em pequenas empresas para obter ganhos financeiros, o caso foi encerrado.

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Andreia Nobre
QG Feminista

Jornalista, escritora, autora do Guia (mal-humorado) do Feminismo Radical e do Guia (mal-humorado) da Maternagem